REVISTA VEJA – 07/06/2020 Organizar a lista oficial de mortos na tragédia da pandemia parecia a única tarefa do Ministério da Saúde cumprida a contento desde o início da guerra ao coronavírus. Depois de penar até para gastar a montanha de dinheiro liberada pela Economia para socorrer o SUS com respiradores e equipamentos de proteção, os populares EPIs, a pasta resolveu perder de vez a utilidade ao maquiar números e omitir informações repassadas pelos estados na crise.
Diante do descalabro da medida, na noite deste sábado, a PGR mandou abrir investigação para apurar as mudanças ordenadas pelo Palácio do Planalto a Pazuello: “Considerando ampla divulgação pela imprensa, nesta data, da decisão do Ministério da Saúde de retirar do Painel de Informações da COVID-19 o número de pessoas mortas em virtude da doença, bem como de restringir outros tipos de informações relativas à mesma doença e que, em acesso ao referido portal, às 17h10, desta data, constatou-se que exibe apenas a informação de novos óbitos confirmados, omitindo a informação do número acumulado de mortos, informo que esta 1ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal instaurou Notícia de Fato, conforme portaria anexa”.
A PGR dá 72 horas para que o governo forneça uma série de informações sobre as mudanças. O ministério terá que enviar, por exemplo, “cópia do ato administrativo que determinou a retirada do número acumulado de mortes do Painel COVID-19, do Ministério da Saúde, bem como a cópia do inteiro teor do procedimento administrativo que resultou na adoção desse ato”.
Para alguns integrantes do governo Bolsonaro, essa cena é retrato de armação de prefeitos e governadores para receber mais dinheiro do governo federal na pandemia Jonne Roriz/VEJA/VEJA
Ainda terá que esclarecer “se houve e, caso positivo, quais foram, outras modificações e supressões de dados públicos relativos à pandemia da COVID-19, especificando os fundamentos técnicos que embasaram a adoção dessa decisão”.
O ministério ainda deverá informar “com a respectiva documentação, qual foi a urgência que determinou a retirada imediata do número de mortos do painel de vítimas da COVID-19, bem como eventuais outras modificações que tenham implicado restrição à publicidade de dados”.
A sub-procuradora Célia Regina Souza, que assina o pedido, registra que, “na hipótese de ser verdadeira a informação de que há pretensão do governo federal de rever quaisquer dados já divulgados, atinentes à pandemia, informar qual é a razão pela qual essa eventual correção não poderia ser efetuada independentemente da supressão prévia de informações”.
“Ainda na hipótese de ser verdadeira a informação de que há pretensão do governo federal de rever os dados questionados, encaminhar cópia dos documentos que fundamentam, do ponto de vista técnico, a necessidade de tal revisão”, diz Célia.
Sob o comando do general Eduardo Pazuello — que, como mostra o Radar, vinha ganhando a simpatia dos secretários de saúde por manter contato permanente e ágil na crise –, o ministério tratou de implodir o conjunto estatístico da pandemia de coronavírus.
Wizard disse à colunista Bela Megale, do Globo, que “tinha muita gente morrendo por outras causas e os gestores públicos, puramente por interesse de ter um orçamento maior nos seus municípios, nos seus estados, colocavam todo mundo como covid.”
PGR vai investigar ‘maquiagem’ do governo em números de mortos na pandemia